Somos a Natureza, não nos esqueçamos disso

Somos todos parte integrante da natureza, como espécie compomos o círculo da vida e de
forma natural nascemos conectados à sua energia.  Em um mundo tecnologicamente
desenvolvido, nos moldes da vida moderna, nos separamos de forma ilusória dessa conexão
com o todo.

Allan Kardec em ‘O Livro dos Espíritos’ esclarece que a divisão da Natureza acontece, na
verdade, sob o ponto de vista moral. Sob o ponto de vista material, somos todos compostos
de moléculas semelhantes, provenientes do fluido cósmico universal. Entretanto, em seus
diversos reinos há diferenças nítidas, ainda que seus limites pareçam se confundir em vários
pontos. As plantas, os animais e os homens nascem, crescem, reproduzem-se por si mesmos
e morrem, todos possuem vitalidade e são conhecidos como seres orgânicos. Os minerais, a
água, o ar etc. são compostos de matéria inerte e não possuem vitalidade, assim chamados
seres inorgânicos.

O homem tendo tudo que há nas plantas e nos animais, domina todas as classes por possuir
uma inteligência especial, indefinida, que lhe dá consciência do futuro, a percepção das
coisas extra materiais e o conhecimento de Deus.

Os animais e as plantas, de forma automática e inconsciente, realizam sua parte dentro
desse organismo vivo. O reino humano por sua vez, tem uma função determinada na
corrente evolutiva. Por possuirmos o intelecto correspondente ao nível consciente do
planeta, somos convidados a cuidar e conservar o meio que nos recebe como casa e nos
permite evoluir. Assim, tudo se encadeia na natureza: do átomo ao arcanjo vivemos numa
teia que se interliga e se autossustenta.

Muito se discute sobre a possibilidade de uma “natureza” humana, um modo de pensar e
agir que seja inerente ao ser humano.  O biólogo britânico, Richard Dawkins – renomado e
grande contribuinte para a ideia de que o ser humano é essencialmente egoísta -, defende
que o egoísmo tem uma certa vantagem evolutiva e, portanto, teria sido naturalmente
selecionado como uma característica psicológica do ser humano. No final do século XX,
Dawkins fomentou este debate.

O Espiritismo, por seu turno, contrapõe este conceito demonstrando a união entre o espírito
e a matéria no processo de reencarnação e efetiva evolução do Princípio Inteligente já
estagiado no reino mineral, vegetal e animal. É certo que trazemos em nosso corpo
biológico os minerais em forma de ossos, sais minerais e formações de ferro e cálcio. Na
memória do reino vegetal encontramos na capilaridade sanguínea o reflexo da seiva que por
todo o caule alimentava as plantas. Em relação ao reino animal encontramos o instinto
como forma de defesa, alguns exemplos, apenas para demonstrar que temos em nós a
Natureza, muito mais do que nos damos conta.

O Homem ao atingir o estágio do pensamento contínuo e utilização do livre-arbítrio
começou a desenvolver o autoconhecimento em relação à própria natureza adorando
instintivamente Deus nas manifestações de seus elementos meteorológicos, posteriormente nas montanhas e florestas, um pouco mais avançado em animais como o jacaré sagrado nas
margens do Rio Nilo, no Egito. Chegou, então, ao antropomorfismo, ao adorar Deus em
forma de ser humano superior à toda natureza.

Mais avançado no quesito intelecto-moral a estrutura da sociedade baseou-se na competição
pela sobrevivência, na busca por fruir um melhor ambiente e, para isso, apropriou-se
indevidamente da terra em detrimento da comunidade que foi una nos primeiros
agrupamentos sociais. O aperfeiçoamento dos materiais e mecanismos de exploração dos
recursos naturais, virou um movimento desenfreado que nos distanciou da Terra enquanto
mantenedora da vida do homem. O querer sempre mais a satisfazer seus desejos infinitos
propiciou um desequilíbrio e natural afastamento das leis naturais contidas nos reinos por
nós estagiados. Tal distanciamento efetivou um descompasso interno e consciencial do que
representa o papel do ser humano na vida e na Terra.

A natureza sempre garantiu gratuitamente ao ser humano sua sobrevivência, desde que se
satisfizesse com o necessário para sua permanência e desenvolvimento de suas
potencialidades enquanto espírito imortal. A Lei de Destruição é Divina e faz parte da
existência, já que toda morte é apenas um processo de transformação. Entretanto, tornou-se
abusiva e, assim, estamos agora pagando um alto preço pelo nosso egoísmo.

A saga de tudo querer distanciando-se dos seus antepassados condicionou o inconsciente
coletivo da humanidade – espírito encarnado – a se apartar cada vez mais de suas origens
divinas. O homem transformou tudo em objeto e mercadoria a ser vendida em detrimento
do sentimento de fraternidade universal a integrar todos os reinos da natureza. O lucro
tomou conta de sua vida em contraposição ao imprescindível respeito às leis imutáveis
inscritas na consciência e manifestadas na obra divina por toda a natureza.

O egoísmo moral ganhou ascensão no seio da sociedade concentrando poder em poucas
mãos e usurpando os recursos naturais, bem como a mão de obra dos seus irmãos e
companheiros de evolução espiritual. Desta maneira, chegamos ao ponto de termos um
grande número de alimentos produzidos ao lado de seres humanos e crianças que morrem
de fome. A tecnologia levando o homem ao espaço e necessitados morrendo na fila, na
porta dos hospitais. No Brasil, por exemplo, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea), entre fevereiro e março de 2021, havia pelo menos 221 mil pessoas em
situação de rua. Cabe-nos o questionamento íntimo do quanto participamos desta máquina
de desigualdade social, consciente ou mesmo inconscientemente.

Somos convidados a nos conhecer, nos melhorar e a promover ações positivas, visando
sempre a harmonia do todo. O verdadeiro poder divino que habita em nós é aquilo de mais
poderoso que possuímos, e só somos capazes de descobri-lo através de uma busca honesta e
sincera com nós mesmos. Que mundo deixaremos para nossos herdeiros? A doutrina
espírita muito contribui desde o início da vida no planeta para a descoberta desse poder
herdado do Criador.

Os sentimentos superiores como o amor, a empatia, a cooperação e o altruísmo são a nós
instruídos pelos espíritos amigos e através dos ensinamentos deixados pelo grande Mestre
Jesus. Quem desperta seu verdadeiro poder pessoal cocriador não deseja ter autoridade
sobre ninguém, somente sobre sua própria narrativa e evolução de vida. Esse poder
verdadeiro e divino, é o único que nos concede permissão para fertilizar a vida individual e
coletiva.

Olhar para dentro a fim de respeitar e contribuir para a harmonia do universo é papel
indispensável para que possamos refazer as pazes com os elementos da natureza que nos
sustentam a existência física. Basta o oxigênio expirar sua manifestação que nenhum
progresso tecnológico haverá de ser capaz de manter a vida na Terra. Pensemos em nossa
responsabilidade e que Deus nos inspire e dê tempo de nos ajustar com nosso passado,
reintegrando-nos às manifestações dos irmãos que estagiam nos demais reinos e sustentam a
vida biológica a abrigar nossas almas em ascensão à perfeição.

Somos todos irmãos e vivemos na Terra, mas ela não é nossa. Nós somos a natureza, não
nos esqueçamos deste preceito.

 

“Tudo na Natureza se encadeia por elos que ainda não podeis apreender. Assim, as coisas
aparentemente mais díspares têm pontos de contato que o homem, no seu estado atual,
nunca chegará a compreender. (…) Somente quando sua inteligência estiver plenamente
desenvolvida e liberta dos preconceitos do orgulho e da ignorância logrará ver claro na
obra de Deus. Até lá, suas ideias restritas lhe fazem observar as coisas por um mesquinho e
acanhado prisma.”

O Livro dos Espíritos. 

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