O novo traz em si, o medo, o medo daquilo que ainda não é conhecido. Mas, espíritas, o que nos é desconhecido sobre existirem múltiplas moradas na casa de nosso Pai? Necessitamos ainda, é verdade, nos assenhorarmos um pouco mais dessa realidade. A morte é o fim? O término? Ou um recomeço, transformação, transmutação? Definir o que chamamos de morte, talvez seja simplesmente um marco necessário para delimitação da mudança de entendimento sobre o assunto. Aprendemos com os Espíritos que:
“O corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo do seu exílio.” “Quanto mais o Espírito se haja identificado com a matéria, tanto mais penoso lhe seja separar-se dela; ao passo que a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de desprendimento, mesmo durante a vida do corpo, de modo que, chegando a morte, ele é quase instantâneo.” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec)
A vida, como a conhecemos é feita de ciclos, fases, períodos. Cada um deles com suas oportunidades de aprendizados diversos. E, a lição que tiramos é que sempre saímos maiores de cada uma dessas etapas, ainda que não tenhamos os olhos de enxergar. O Criador nos dotou da capacidade de evolução, renovação e é preciso o velho dar lugar ao novo para que tudo isso faça sentido.
Esse nosso caminhar pode ser mais lento ou mais longo, à medida em que percebamos a necessidade de evolução e nos propusermos a ir a favor dessa correnteza, por meio da mudança de nossas atitudes e posturas diante de tudo que a vida nos oferece. A ideia da morte, desencarnação ou abandono do corpo material para a grande maioria de nós, é bastante custosa. Apesar de sabermos que este é o destino de toda a criatura vivente, a certeza de que deixaremos o nosso corpo físico por muitas vezes nos atemoriza, uma vez que nos concentramos na perspectiva materialista. Ou seja: alimentamos a ideia de que tudo acaba aqui e nunca mais nos reencontraremos com nossos entes queridos que transitam em outras dimensões. Mais ainda, deixaremos de existir. Entretanto, como Espírito imortal que somos, nos surpreendemos com o fato de que quando deixamos a vida nos deparamos com a própria vida, agora no plano espiritual.
Para a maioria das crenças ou religiões, a imortalidade da alma é uma certeza. O que muda em cada religião é a destinação da alma após essa existência. A continuidade da vida é ensinamento do Hinduísmo, Judaísmo, Budismo, Cristianismo, Islamismo, religiões de matriz africana, sem deixar de citar os povos “pagãos” do Egito antigo há mais de 2000 anos antes de Cristo. Ou seja, o entendimento que a vida continua parece estar escrito, de alguma forma, nas consciências de todos os seres encarnados nesse planeta.
É necessário pensarmos nela, sim. E começarmos a compreender a finitude do corpo físico como algo natural. Isto nos ajuda a progressivamente incluir esta realidade inevitável em nosso coração e nos adaptarmos a ela. É necessária a interiorização de que iremos, sim, nos afastar fisicamente e pelo tempo necessário, daqueles que nós amamos. Verdade também é que, aqueles que nos são caros, poderão estar a nossa espera no momento da desencarnação e que, em pensamento e durante o sono, não nos afastaremos deles.
Manter a mente na sintonia de gratidão ao Criador pelas oportunidades de aprendizado ao longo das encarnações e pela permissão da reaproximação de nossos entes queridos em outras dimensões da vida, nos previne de sofrimentos no momento de transição e passagem. Lembremos que outras culturas chegam a celebrar esse momento, por compreenderem que um novo ciclo se cumpriu e que outro virá, dando continuidade à vida em outras dimensões.
E para finalizar, guardemos as palavras de Léon Denis, como reflexão para o nosso momento existencial:
“A morte é uma simples mudança de estado, a destruição de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao seu funcionamento e à sua evolução. Para além da campa, abre-se uma nova fase de existência. O Espírito, debaixo da sua forma fluídica, imponderável, prepara-se para novas reencarnações; acha no seu estado mental os frutos da existência que findou.
Por toda parte se encontra a vida. A Natureza inteira mostra-nos, no seu maravilhoso panorama, a renovação perpétua de todas as coisas. Em parte alguma há a morte, como, em geral, é considerada entre nós; em parte alguma há o aniquilamento; nenhum ente pode perecer no seu princípio de vida, na sua unidade consciente. O universo transborda de vida física e psíquica.A morte é apenas um eclipse momentâneo na grande revolução das nossas existências; mas, basta esse instante para revelar-nos o sentido grave e profundo da vida. A própria morte pode ter também a sua nobreza, a sua grandeza. Não devemos temê-la, mas, antes, esforçarmo-nos por embelezá-la, preparando-se cada um constantemente para ela, pela pesquisa e conquista da beleza moral, a beleza do Espírito que molda o corpo e o orna com um reflexo augusto na hora das separações supremas. A maneira pela qual cada um sabe morrer é já, por si mesma, uma indicação do que para cada um de nós será a vida do espaço”
(O Problema do ser, do destino e da dor/Léon Denis).