O ambiente como meio
“A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se. Se o que ela produz não lhe basta a todas as necessidades, é que ele a emprega no supérfluo o que poderia ser empregado no necessário”. (O Livro dos Espíritos, A. Kardec, capítulo V, Lei de Conservação).
A natureza somos nós. Nós somos a Natureza. Muito mais do que pensamos, somos água, carbono, nitrogênio, somos minerais, como ferro, cobre, somos ar, como oxigênio e gás carbônico. E acima de tudo, somos fogo, quando muitas reações de combustão e consequente calor acontecem na intimidade de nossas células diariamente. A integração ao ambiente é total, plena, interdependente. E quando tomamos a decisão de quebrar essa compreensão, passamos a definir dois elementos: o meio ambiente e nós.
E nesse período de transição contínua do globo há um convite para nos reintegrarmos, conscientemente e entendermos que o nosso corpo físico é um meio, assim como o ambiente é o meio, ofertado por Deus, para permitir nosso progresso moral.
O Dia Mundial do Meio Ambiente, em junho, criado pela ONU e que conta o envolvimento de milhões de pessoas em todo o globo para proteger o planeta, chama a atenção para os desafios ambientais urgentes da atualidade.
O meio ambiente é considerado o conjunto de condições, leis e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas e tudo aquilo que está ligado direta ou indiretamente a ela. Desde os primórdios dos tempos que a humanidade usufrui do que a natureza lhe proporciona. Mas o homem, muitas vezes de forma insaciável e egoísta, vem cada vez mais retirando dela além do que é necessário, degradando parte do que é útil ao nosso crescimento.
A crise ambiental que se consolidou no Globo, negada por alguns, reflete décadas de um modo de vida e consumo que esgota recursos, dá surgimento ao aquecimento global e ameaça a própria existência.
A Humanidade, caminha, em parte ainda sem perceber, a passos largos em direção a promoção do que podemos considerar seu próprio sofrimento. Eventos climáticos extremos, o aumento da temperatura global e a expansão do desmatamento como nunca registrado, já afetam o planeta e a vida nele de maneiras irreparáveis.
Vivemos uma crise na produção de alguns alimentos, secas e períodos de estiagem cada vez mais longos, chuvas intensas em poucos dias, contaminação do solo e poluição do ar.
Deus forneceu e fornece à Humanidade os meios de buscar a sua conservação, a sua subsistência. No entanto, é de nossa responsabilidade encontrar e compreender tais meios, mas sem esquecer que a Terra produz o suficiente para nos abastecer com o necessário.
Allan Kardec, ao se dirigir aos Espíritos, fez vários questionamentos relacionados ao instinto de conservação e aos meios de a manter, e condensou essas respostas em O Livro dos Espíritos, no capítulo 5, intitulado ‘Lei de Conservação’. Na questão 717, Kardec os interrogou sobre os que açambarcam os bens da Terra para se proporcionarem o supérfluo, em prejuízo dos que não têm sequer o necessário, e obteve como resposta: “Desconhecem a lei de Deus e terão de responder pelas privações que ocasionaram.
E proteger o planeta, assim como está descrito na Parte III de ‘O Livro dos Espíritos’, é viver em harmonia com a mãe Terra que nos oferece condições para reencarnarmos.
Não se trata de viver como os povos originários; devemos utilizar os frutos do progresso intelectual sim, mas precisamos apurar o bom senso e entender que o planeta nos fornece insumos para uma vida plena, quando abdicamos do supérfluo.
Boa parte da solução para quase todos os problemas que enfrentamos está na regeneração da natureza. Temos um papel importantíssimo na conservação e prevenção do que ainda nos resta, mas também na reconstrução que começa na formação de cada um e cada uma.
Até quando vamos consumir sem pensar no resíduo que geramos e que permanece no Planeta, por milênios até? Quando questionaremos a forma de consumir e gerar energia na cidade onde moramos? A energia renovável é um ganho quase que incalculável – onde estão os investimentos nesse setor? Economia circular precisa se tornar possível. Os carros do jeito que são hoje, precisam ser repensados, ou até mesmo, retirados das ruas. Para isso, precisamos construir menos vias e mais ciclovias, calçadas, parques e praças.
O meio ambiente ecologicamente equilibrado é um bem de uso comum da humanidade e necessário para a nossa existência, mais do que isso, somos nós.
Cabe a nós desenvolver a moral, controlar a ganância e o egoísmo para conservarmos a vida na Terra, que nos acolhe e cuida para o nosso desenvolvimento moral e espiritual.
Os espíritos nos guiam:
“Ingrato, o homem despreza a Terra! Ela, no entanto, é excelente mãe. Muitas vezes, ele acusa a Natureza do que só é resultado da sua imperícia ou da sua imprevidência. A Terra produziria sempre o necessário, se com o necessário soubesse o homem contentar-se.”
O mês do Meio Ambiente deve ser motivo de reflexão sobre a reforma interna que reflete o mundo externo em que queremos viver. Já não temos o tempo que tínhamos antes e as futuras gerações dependem de escolhas feitas hoje.
Certamente as nossas consciências nos cobrarão pela Casa que nos foi dada cuidar e que é responsável pela manutenção de nossas vidas.
Olhemos para o meio em nossa volta como parte de nós mesmos, porque assim o é. E dessa forma, aprendamos a amar, cada pedacinho do planeta, como precisamos aprender a amar cada pedacinho de nós mesmos. Somos um só!