O misterioso e o sobrenatural sempre causaram um embaraço no imaginário coletivo, fruto do desconhecimento e do misticismo infundido nas mentes através de histórias e contos que exageravam e permanecem distorcendo a realidade espiritual. Doutras vezes foi motivo para que mulheres, alcunhadas como bruxas, perdessem suas vidas físicas em nome de uma falsa interpretação da influência dos espíritos em nosso meio físico.
O Livro dos Médiuns, por esse e outros motivos, foi um marco na desmistificação da relação e influência dos espíritos na vida cotidiana. Demonstrou Allan Kardec, de maneira simples e objetiva, os princípios que norteiam esta convivência. Os espíritos sempre existiram, fato. Sua relação nos trâmites da natureza e nas mentes humanas foi vigorosamente desbravado e pedagogicamente estruturado no segundo livro da codificação espírita, com extensão além dos questionamentos corriqueiros para uma vida boa aqui na Terra. Expressa todo um roteiro sobre a melhor maneira de lidar com essas formas ditas misteriosas e eximir-se, na medida do esforço e aprimoramento individual, dos escolhos que o uso da mediunidade é inerente.
Da influência mais sutil às expressões de domínio psíquico, a saber, possessão, com consequências físico-químicas no ser humano, o livro trata com naturalidade desses fenômenos mediúnicos que estão radicados no corpo físico. Esclarece que os espíritos nada mais são do que os homens que já morreram, que vivem com suas consciências e gostos uma vida igual à nossa, mas em uma dimensão mais etérea cognominada plano espiritual.
Na medida em que todos somos médiuns em potencial, com sensibilidade para receber a manifestação de uma mente desencarnada – espírito – as faculdades descritas com critério e pormenorizadas nos diversos capítulos do livro, são catalogadas, principalmente, em dois grupos: as manifestações físicas, que impressionam e movimentam os corpos inertes e, as manifestações inteligentes, aquelas que promanam de inteligências extracorpóreas com o fito de esclarecer inúmeros conhecimentos que ignoramos. É a filosofia espírita a clarear e orientar a evolução humana oferecendo os parâmetros para a aquisição da paz imorredoura e a felicidade sem máculas.
Quando o mistério é desmascarado, a realidade passa conviver com naturalidade. Desde o simples bom dia espontâneo e cheio de vibrações harmoniosas, até a antipatia aparentemente desmotivada por alguém, passando pela materialização e o deslocamento de objetos de um lugar a outro sem que a ciência atual consiga demonstrar, a vida ganha contornos de suavidade e de leveza diante da compreensão do profundo relacionamento existente entre o plano físico e o espiritual.
Estudar O Livro dos Médiuns é apropriar-se de um manancial incrível de possibilidades que dormitam dentro de nós aguardando o seu desenvolvimento. Não que a natureza não se preste a nos auxiliar, mas a utilização da razão providencia o emergir consciencial que nos dá maior liberdade diante de suas manifestações. Adentrar os escaninhos deste livro é promover o autodescobrimento de maneira simples e natural como qualquer conquista a qual investimos tempo e dedicação.
Não basta querer desenvolver determinada mediunidade, com o fito de tirar proveito para si, ainda que inconscientemente. Torna-se necessário educar as potencialidades com as quais nascemos e estão vinculadas à nossa realidade atual, entendendo que temos os melhores atributos para o aprimoramento de nossas capacidades a fim de alcançarmos a evolução relativa possível aqui na Terra.
Estendendo as vistas a um campo de realizações futuras junto à mediunidade, possamos começar amando os semelhantes numa beira de uma cama de hospital, além de nossas energias, renunciando ao descanso merecido em prol da recuperação da saúde do próximo, e se estruturará os fundamentos de uma mediunidade de cura.
Seja manso no falar e será logo mais um médium que consolará e será instrumento de mananciais de alegria a um grande número de necessitados. Lembremo-nos que o sol é médium da luz, trabalha sem alardes e independentemente do que falam a seu respeito, assim como a flor é médium do perfume, apesar do chão lamacento em que nasceu ou dos espinhos que trazem em suas hastes, abramos o coração e nos predisporemos a ser médium de Deus onde estamos vivendo. Se, por acaso, se escassearem os recursos mediúnicos, que nos candidatemos a sermos médiuns do silêncio oferecendo ao outro a abertura interior para repensar suas atitudes e palavras com o fito de amenizar o seu desespero.
Ainda restam dúvidas sobre as casas mal-assombradas, olho gordo, má sorte, seca pimenteira, espinhela caída, despachos e trabalhos encomendados aos espíritos imperfeitos com o fito de prejudicar alguém? Deseja entender como os espíritos obsessores encontram guarida em nossas mentes e passam a influenciar nossos atos mais corriqueiros do dia a dia? Já se perguntou o porquê os espíritos não trazem para nós as soluções para problemas que afligem toda a humanidade como remédios, e a cura para uma infinidade de doenças? Se questionou se estamos irremediavelmente sujeitos aos desejos e ações dos espíritos e sem conseguir tomar decisões por conta própria? Acredita que Deus vela por nós apesar dos espíritos maldosos e o porquê Ele não nos livra dos mesmos?
Essas perguntas e tantas outras são respondidas de forma clara e objetiva em O Livro dos Médiuns, bem como o poder da oração e a responsabilidade de cada qual frente as suas ações, pois o acaso não existe e Deus nos oferta todas as ferramentas necessárias para o aprendizado em comunhão com os espíritos desencarnados. Um pouco de dedicação todos os dias, alguns minutos de meditação e a disciplina necessária para o intercâmbio mediúnico, são princípios que devemos trazer para junto de nós que estamos no afã de desvendar os mistérios que nos cercam, conhecendo-nos cada vez mais.
Se lidamos bem com o relacionamento humano, por que não o faríamos com os desencarnados? A lógica das leis humanas e físicas não é diferente das espirituais, o que nos cabe é estar de coração aberto na lida com os espíritos na mesma medida que nos dedicamos às conquistas materiais. Nos colocando de prontidão e perguntando como Paulo – na estrada de Damasco; “Senhor, o que queres que eu faça?”
Cônscios que somos pequenos para almejar a solução de tudo e para todos, mas plenamente capazes de implementar a paz no interior de nossos corações, amparando aqueles que aguardam de nós o melhor, dentro da lei da Fraternidade Universal, O Livro dos Médiuns é um companheiro com o qual devemos estreitar os laços.