Le jour de gloire est arrivé”.
Adilton Pugliese
No dia 12 de agosto, a Organização das Nações Unidas celebra e estimula o protagonismo juvenil no mundo.
Como espíritas, devemos lembrar que jovens são Espíritos reencarnados, com histórias pregressas e, portanto, capazes de promover transformações nos diversos cenários no Universo, em qualquer idade!
Adilton Pugliese, nesse texto, nos convida a mergulhar e conhecer a intensa relação de Allan Kardec com a Juventude.
Quando começou a frequentar as reuniões mediúnicas na casa da Sra. Plainemaison, a partir de uma terça-feira do mês de maio de 1855, a convite de um amigo, o Sr. Pâtier, o professor H.L.D. Rivail, o futuro Allan Kardec, conheceu um cavalheiro que ficou conhecido nos registros históricos do Espiritismo como Monsieur Baudin. Esse Senhor Baudin também realizava experiências mediúnicas em sua residência, localizada, em 1855, na rua Rochechouart.
O professor Rivail, convidado, então, pelo senhor Baudin vai assistir às reuniões que ocorriam em sua residência, e é ali que “encontraria o ambiente ideal para prosseguir seus estudos”. Assim, em 1856, que foi um ano de grande importância para consolidação das tarefas primordiais dos trabalhos do futuro Codificador da Doutrina Espírita, ele passaria a manter contatos com os Espíritos na casa desse Senhor Baudin, então situada na rua Lamartine, em Paris. Agora um detalhe: essas reuniões, com a presença do famoso professor e pedagogo francês “atraíam seleta e numerosa assistência”. Há um destaque muito importante em torno dos Baudin: foi na intimidade do lar dessa família que teve início e concretizada, em grande parte, a elaboração de ‘O Livro dos Espíritos’.
Recuemos um pouco no tempo, e vamos relembrar alguns destaques da vida de Allan Kardec. Podemos dividir a existência desse homem notável em três fases dinâmicas: (1) o Educador; (2) o Codificador da Doutrina Espírita; (3) o Codificador do Movimento Espírita, confirmada essa última pelos textos que elaborou a partir de 1868, a exemplo de Constituição do Espiritismo, Projeto 1868 e outros.
Têm sido evidenciados alguns perfis de Allan Kardec na fase de Educador, que vai de 1814 (como aluno em Yverdon) até 1854, quando atinge plena maturidade e respeitabilidade como pedagogo emérito, diretor de Instituto de Ensino, tendo lançado várias obras didáticas e promovido cursos gratuitos em Paris.
Mas, desde as suas experiências em Yverdon destaca-se uma faceta do seu caráter, da sua personalidade: a convivência com os jovens e o seu respeito aos adultos, sobretudo os mestres. A sua preocupação com a educação das crianças e da juventude de sua pátria é fascinante. Podemos, assim, depreender, que o seu contato, a sua interação com a juventude foi intensa. Sua esposa foi professora de primeira classe e de Belas Artes, tendo escrito três livros: Contos Primaveris, Noções de Desenho e O Essencial em Belas Artes. No Instituto Técnico Rivail, que eles fundaram em Paris e que existiu até 1835, realizaram inúmeros cursos e, posteriormente, até 1840, de forma gratuita, em sua residência.
Em Paris, nessa época, funcionava uma Instituição de cursos públicos, no bairro de São Germano, do educador francês Lévi-Alvarès (David-Eugène) (1794-1870). Ainda moço Lévi-Alvarès criou cursos para elevar o nível de instrução de jovens, sobretudo de moças, seguindo um método que depois tomou o seu próprio nome. Nessa época, portanto, o professor Rivail colaborava com esse famoso pedagogista, elaborando os textos do curso frequentado pela juventude parisiense.
O que desejamos destacar é a facilidade de convivência que o professor Rivail tinha com a juventude. E a importância dessa convivência ter sido facilitada através do exercício do magistério não foi por acaso, porquanto ela seria importante para a segunda fase de sua vida, aquela que o tornaria mundialmente conhecido como Codificador do Espiritismo.
Ao visitar pela primeira vez a família Baudin o professor Rivail é apresentado a duas meninas: “– Como vocês se chamam?” A primeira respondeu: “– Caroline Baudin, tenho 16 anos”. E a segunda: “– Julie Baudin, tenho 14 anos e somos irmãs. Os Espíritos, professor, escrevem por nosso intermédio. Quando eu e Caroline colocamos os dedos na borda de uma cesta com um lápis preso num dos cantos e aproximamos o lápis do papel, eles escrevem, escrevem por nosso intermédio e, professor, os Espíritos redigem a resposta no idioma em que a pergunta tenha sido feita e, mais extraordinário, respondem a perguntas feitas mentalmente e cada um deles apresenta uma caligrafia diferente”.
Graças a essas informações, à pureza mediúnica daquelas duas jovens médiuns, o professor Rivail pôde dizer, mais tarde: “– Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender; percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara em toda a minha vida”.
Mais tarde, as meninas Baudin casam-se e dedicam-se a outras atividades. Porém, outras jovens haviam se aproximado de Allan Kardec: as médiuns Senhoritas Japhet, Aline Carlótti e Ermance de la Jonchére Dufaux (nascida em 1841), conhecida como a médium historiadora, por ter sido autora de obras como ‘A Vida de Joana D’Arc’ (editada em 1858), ‘História de Luís XI’ (1864) e ‘Vida de Carlos VIII’. A primeira obra seria queimada em praça pública, juntamente com livros de Allan Kardec, no famoso auto-de-fé de Barcelona, em 09 de outubro de 1861.
Devemos lembrar, também, que tudo começaria com a participação de três jovens irmãs que se tornariam um marco na história da mediunidade: Margareth Fox (14 anos), Katherine Fox (11 anos) e Leah Fox (37 anos). Foi a menina Katerine, de 11 anos, que deu início ao que ficou conhecido como telegrafia espiritual, durante os célebres episódios ocorridos em 31 de março de 1848, no lugarejo de Hydesville, no Condado de Rochester, nos Estados Unidos da América, na casa onde moravam.
Portanto, muitos jovens se aproximaram do Codificador. Um deles, que se celebrizaria nas atividades espíritas, viveu uma experiência interessante. Em 1864 ele tinha 18 anos e passava horas, na cidade de Tours, na França, onde morava, contemplando a vitrine de uma loja. Não era uma loja de doces ou brinquedos, mas a vitrine de uma livraria. Aquele jovem tinha um sonho desde os 16 anos: comprar um Atlas ilustrado por Gustave Doré (1833-1883). Estava guardando suas economias há tempo. Mas, um dia, sua mãe descobrira o seu tesouro – a sua poupança – e, premida pela necessidade, deu outro destino às economias do jovem.
Então, naquele ano de 1864 ele continuava namorando a vitrine da livraria quando viu um livro. Não era um Atlas nem um compêndio de geografia. O título chamou a sua atenção. Tomou então coragem, verificando quanto possuía, entrou na livraria e comprou o livro que se tornaria o tesouro de sua vida. O verdadeiro atlas que indicaria os caminhos do seu destino: ‘O Livro dos Espíritos’. Esse jovem chamava-se Léon Denis. Achando que a sua mãe não aprovaria a leitura resolveu ler escondido. Mas as mães descobrem tudo! Assim como descobriu a poupança escondida… debaixo do colchão, ela encontrou o livro… debaixo do colchão! E então, também começou a ler… às escondidas! E o resultado é que ambos, D. Anne Lucie e Léon Denis se tornaram espíritas.
Anos depois, em 1867, o jovem Denis, com 22 anos, teria oportunidade de ouvir o Codificador em pessoa, quando esse estivera visitando a sua cidade, Tours, para proferir uma conferência. No dia seguinte à palestra Denis visitaria novamente Allan Kardec. Eram dois homens ligados através dos séculos. Um deles era o homem maduro, em pleno exercício de sua missão. O outro, ainda jovem, ensaiava ao lado do Mestre os primeiros passos para ser, no futuro, o Consolidador do Espiritismo.
Há outros casos. No ano em que Kardec lançou ‘O Livro dos Espíritos’ nascia em Paris, em 23 de março, um menino que foi chamado François Marie Gabriel Delanne, filho de Alexandre Delanne, amigo íntimo de Allan Kardec. Um dia o Codificador tomou esse menino e colocou-o em seu colo e vaticinou: “– Este menino um dia será uma personalidade de destaque no Espiritismo”. E acertou em cheio, porque após formar-se em engenheiro eletricista e com apenas 28 anos publicou a sua primeira obra intitulada O Espiritismo perante a Ciência, nos idos de 1885, 16 anos após a desencarnação de Allan Kardec. Delanne foi uma figura notável do Espiritismo, companheiro de pesquisas de Charles Richet.
A participação mais profunda, contudo, de um jovem na vida do Codificador e que permitiu as diretrizes eficazes do seu trabalho e a concretização das suas tarefas certamente foi o reencontro dele com o Jovem Galileu. Essa é das fases mais comovedoras da vida de Allan Kardec. No início tudo ainda era confuso e incerto. Os fenômenos agitavam as reuniões. O grupo na casa da família Baudin requisitava um líder e o professor Rivail parecia ser a pessoa certa. Até que aconteceu a reunião de 25 de março de 1856, na casa do Sr. Baudin, sendo médium uma de suas filhas. Nessa reunião o futuro Codificador entraria em contato com o seu guia espiritual. É um momento emocionante! O professor pergunta: “– Consentirás em dizer-me quem és?”. “– Para ti, chamar-me-ei A Verdade e todos os meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei à tua disposição”. E depois, em 1860, declararia: “– Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me”.
Allan Kardec ouviria aquela voz e dela jamais se apartaria, concretizando o advento de O Consolador, prometido, dezoito séculos antes, pelo “Moço Nazareno”.