A Necessidade de ver para crer: reflexões a partir da experiência do apóstolo Tomé

 

 

“Aquele que duvida verdadeiramente, procura, e aquele que procura, encontra.”

Charles Fourier (Revista Espírita, abril, 1869).

 

A Necessidade de ver para crer: reflexões a partir da experiência do apóstolo Tomé

                                                                                                         (por Dejiária Santiago)

 

A condição humana é marcada por uma série de questões filosóficas, culturais, sociais, e entre elas está a necessidade de questionar, duvidar. O ato de duvidar não traz em si nenhuma premissa que nos obrigue a encará-lo como algo danoso, mas sim, como uma oportunidade de crescimento pessoal, aprofundamento dos conhecimentos e fortalecimento da visão que já se possui. Neste contexto, a propósito da passagem do dia em que é dedicado a homenagear o Apóstolo Tomé, vamos refletir sobre a importância de questionarmos e encontrarmos respostas para nossas dúvidas, buscando dar ênfase ao fato da dúvida poder ser benéfica à nossa jornada espiritual.

Logo após o fenômeno bíblico conhecido como ressurreição de Jesus, o apóstolo Tomé ofereceu-nos um exemplo valioso sobre a importância de duvidar e questionar. Tornou-se popularmente conhecido como “Tomé, o incrédulo”, em razão de não aceitar prontamente as palavras dos outros apóstolos sobre o reencontro com Jesus.

Disseram-lhe, pois, os outros discípulos: Vimos o Senhor. Mas ele disse-lhes: Se eu não vir o sinal dos cravos em suas mãos, e não puser o meu dedo no lugar dos cravos, e não puser a minha mão no seu lado, de maneira nenhuma o crerei. (…) Depois disse Jesus a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. (João 20:25-29)

O Mestre necessariamente não classificou sua dúvida como uma falha, mas fez do episódio uma oportunidade de fortalecer sua fé. Jesus atendeu ao pedido de Tomé, permitindo que ele tocasse em suas feridas, e assim, a dúvida de Tomé se transformou em certeza. Quem poderá atirar a primeira pedra à dúvida do apóstolo Tomé? Deveria ele, ocultar suas incertezas?

A Doutrina Espírita enfatiza que o nível de evolução espiritual de cada indivíduo é determinado pelo seu próprio esforço e progresso ao longo das múltiplas existências, uma vez que todos os espíritos têm um potencial ilimitado de progresso, e cada um de nós está em diferentes estágios de desenvolvimento espiritual. Não parece ser razoável considerar que, a condição evolutiva de Tomé naquele momento, não lhe permitia vivenciar uma fé da mesma forma que seus companheiros? Vejamos o que menciona “O Livro dos Espíritos”, na Questão 909, passagem em que a fé é apresentada como confiança em Deus, mas não como uma crença cega, e a razão também é valorizada para guiar os impulsos do indivíduo:

“O homem não pode pretender abarcar todas as coisas, nem perscrutar os desígnios de Deus, porque seria igual à criança que quisesse medir a extensão dos oceanos com a palma da mão. Mas, ao lado da fé, é necessário haja a razão, para que esta lhe dirija os impulsos, a fim de que a fé não seja cega.”

Há um outro aspecto possível de identificar na atitude de Tomé que está em destaque: a coragem de enfrentar suas dúvidas à procura de uma fé mais profunda, pois, ao questionar a ressurreição de Jesus, buscando evidências tangíveis, enfrentou as incertezas com sinceridade, e assim, pode encontrar respostas transformadoras. Desta passagem é possível tirar inspiração para transformar a dúvida, num instigante convite para uma fé mais forte e autêntica.

Nas Casas Espíritas, onde a busca por conhecimento e o estudo do mundo espiritual são valorizados e incentivados, a dúvida desempenha um papel muito significativo. Ao questionar e investigar as verdades espirituais, cada um de nós estamos exercitando nossa capacidade de discernimento e fortalecendo nossa conexão com o plano espiritual. A incerteza nos estimula a explorar novos conceitos, a aprofundar nosso conhecimento dos ensinamentos espíritas e a buscar um entendimento mais amplo sobre a vida e a existência. Dessa forma, acreditamos que Tomé deu mais um passo no seu caminho para a evolução espiritual.

Acompanhemos o que diz Kardec num trecho do item 7, do Capítulo XIX do Evangelho segundo o Espiritismo:

“Em certas pessoas, a fé parece de algum modo inata; uma centelha basta para desenvolvê-la. Essa facilidade de assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de anterior progresso. Em outras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias.”

É importante destacar que a dúvida não deve ser confundida com ceticismo desenfreado. O objetivo não é negar tudo ou desacreditar sem fundamentos, mas sim exercitar o discernimento para distinguir entre o que é verdadeiro e o que é falso. A dúvida nos convida a examinar de forma crítica as informações que nos forem apresentadas, buscando embasamento lógico e referências adequadas. Assim, podemos aprimorar nossa compreensão e discernimento espiritual, fortalecendo nossa fé de maneira saudável.

A dúvida bem direcionada e explorada pode se tornar um ponto de partida para uma fé mais sólida e consistente. Quando enfrentamos nossas dúvidas e buscamos respostas, estamos empenhando esforços para compreender melhor nossa espiritualidade. À medida que encontramos essas respostas, a dúvida gradualmente se transforma em certeza, e nossa fé se torna mais arraigada e fundamentada em nossas experiências e convicções pessoais.

Em meio à condição humana, o desconhecimento, a incerteza pode sim ser uma ferramenta valiosa para o nosso crescimento espiritual. Assim como o apóstolo Tomé, que duvidou e encontrou a certeza, ao questionar e buscar respostas, fortaleçamos a nossa fé e aprofundemos nossos conhecimentos sobre a espiritualidade. Ao exercitarmos o discernimento e explorarmos as verdades além das aparências superficiais, podemos experimentar uma transformação positiva em nossa jornada espiritual.

A dúvida, quando utilizada como um meio de buscar a verdade, pode verdadeiramente nos conduzir a uma fé mais sólida e uma compreensão mais profunda da condição humana e de nossa conexão com o plano espiritual.

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