O convite foi feito para os responsáveis, mas só apareceram mães e avós. Todas mulheres, tímidas e cheias de histórias de dor e dificuldade de sobrevivência para contar. O que elas expressavam com as palavras também podia ser notado em seus rostos, corpos e seus gestos. Não é novidade para ninguém que a desigualdade social deixa marcas na vida das pessoas. Foi isso o que pudemos detectar no encontro com as mães das crianças do contraturno do Projeto Manvantara.
Essas mulheres revelaram que no universo em que vivem, as dinâmicas presentes nos diálogos das relações familiares e sociais são marcadas pelo grito e pela agressão física.
Uma delas compartilhou: “Eu bato, eu bato muito. Se eu não bater, a polícia bate. Também apanhei e acho que valeu a pena. Graças a isso eu sou a pessoa que sou hoje.”
Diante deste contexto, percebemos que para ajudar as crianças, não podemos apenas tê-las nas oficinas. É preciso também o envolvimento de seus responsáveis.
Para tanto, iniciamos o que havíamos planejado desde a concepção do projeto, que é estimular o sentimento de pertencimento ao Projeto Manvantara, com ações que sensibilizem e integrem as famílias.
Neste primeiro encontro queríamos conhecê-las melhor e para isso, nos propusemos a ouvi-las. Usamos uma dinâmica com fuxicos, “uma fuxicoterapia”, quando as participantes foram orientadas a confeccionar fuxicos enquanto falavam umas com as outras, organizadas em duplas e depois foi aberto um momento para o compartilhamento das experiências.
Em seus depoimentos muitas se apresentaram como mães solos. Ali, partilharam sonhos ainda não realizados, se autodeclararam como guerreiras e fortes diante da condição de vida que possuem e da fragilidade das redes de apoio nas comunidades. Os seus olhos mostram que os sonhos parecem sempre muito distantes de sua realidade e mais próximos da pobreza e da violência que presenciam, sobretudo quanto ao tráfico de drogas.
Em seu cotidiano, se deparam com o que machuca, causa dores e muitas incertezas. Mas apesar de tudo, com essa iniciativa da Casa do Caminho através do Instituto Florescer, essas mães se enchem de esperança por seus filhos estarem sendo acolhidos no Manvantara. Uma delas nos disse: “Eu corro atrás para dar o melhor para os meus filhos”.
Desse encontro, nasceu o sentimento de pertencer a um grupo de mulheres que também são mães, que por sugestão delas será chamado de “Grupo de Mães Manvantara.”
“Obrigado vocês por nos dar esse presente. Falar um pouco de cada uma de nós ir por nos dar esse espaço. De falar um pouco. Somos mulheres. Somos frágeis. Tenho certeza que cada palavra que foi dita nessa tarde alivio um pouco. De tantos cacos que carregamos… Obrigado vocês. Obrigado por nos dar essa oportunidade.”
Algumas delas declararam que chegaram ao Projeto Manvantara porque uma contou para a outra. Dissemos que isso foi um fuxico do bem. Mas na verdade, são resquícios de rede de apoio ainda presente nas comunidades. E quanto aos fuxicos de panos, inicialmente costurados isoladamente, eles foram ligados, como se faz na solidariedade e união. Por esse motivo o fuxico será o símbolo do grupo.
O Projeto do Contraturno Manvantara é apenas o começo de um sonho de ter ações de responsabilidade social da Casa cada vez mais ampliadas e beneficiando cada vez mais pessoas. Momentos como estes serão frequentes, atendendo ao cronograma de ações do Projeto.
Neste momento de transição planetária em que a Terra segue para um planeta em regeneração, pequenas ações, quando construídas tijolos por tijolos, se tornarão verdadeiras casas que acolhem não só as necessidades materiais, mas sobretudo fortalecem o espírito. Contemos com a Equipe Espiritual e o esforço de muitos para fazer a caridade, com muita união e principalmente fé!