Florence Cook: A médium que desafiou a ciência

Impressiona no movimento espírita, desde sua nascente até os dias atuais, a notável contribuição das mulheres na sua consolidação e divulgação. O papel em que se encaixam com destaque desde a senhora Amélie Gabriele Boudet, esposa, companheira, apoiadora e suporte emocional, intelectual, físico e financeiro de Allan Kardec, até os dias atuais representa a importância dos esforços coletivos a todo trabalho doutrinário em prol da humanidade.

​Não foi diferente com esta inglesa, Florence Cook, uma menina que desde a infância demonstrava diferencial no jeito de ser e viver. Com uma saúde desprovida de robustez, conversava por horas a fio com os espíritos que apareciam à sua volta, sendo por seus pais tida como uma criança de mente criativa.

​O que seria mais tarde uma mediunidade pujante em atividades e potencialidade foi durante a infância um desconforto para seus pais, sendo uma companhia à suas atividades infantis. Chegada à adolescência floresceu para o bem de toda a humanidade e de seu pesquisador William Crookes. A mediunidade é potencial da própria alma e chegado o momento adredemente marcado para participar da vida do médium estua, naturalmente, trazendo alguns incômodos no seu exercício.

​Bem utilizada, ela – a mediunidade – corresponde a uma nobre oportunidade de engrandecimento pessoal e possibilidade de auxílio aos necessitados de todos os matizes, além do esclarecimento e reconforto que a realidade espiritual traz nas realizações cotidianas da reencarnação. Intermediando a relação entre espíritos encarnados e desencarnados é uma potência sublime a derramar luz sobre os conhecimentos humanos.

​A jovem em visita a amiga de sua intimidade resolve participar da comum brincadeira das mesas girantes e disponibiliza seu psiquismo àquela atividade que se mostrou intensa e surpreendente. A mesa, sob o impulso incontrolável rodopiou por todo o ambiente, foi a vários flancos e retornou suavemente ao lugar de origem. Reduzida a luminosidade, Florence levita, passeando por toda a sala alcançando o teto da casa. Isso despertou o interesse, primeiro dela, e com a devida autorização de sua mãe experimentou reuniões em seu próprio lar.

​Como tudo que é novidade em nossas vidas, a surpresa seguida de curiosidade, são fases que atravessamos até controlarmos o fenômeno. Inicialmente não conseguindo conter sua energia mediúnica foram quebradas duas cadeiras e uma mesa na reunião em sua casa.

Evitando maiores prejuízos suspenderam-se as manifestações, entretanto, como acontece a toda força medianímica que está além do pleno domínio, até que se entenda o seu propósito utilitário, os espíritos voltaram a utilizar sua mediunidade atormentando seu lar.

​Ninguém foge de si mesmo e de seu potencial, assim Florence começou a participar de um grupo de orientações mediúnicas onde pela primeira vez manifestou o espírito Kate King que viria ficar conhecida nos experimentos científicos do inglês Sir. William Crookes compondo o conteúdo de um de seus livros mais conhecidos, Fatos Espíritas. Uma curiosidade que se destaca na capacidade medianímica da médium é que psicografava de trás para frente, ou seja, para ler suas mensagens era necessária a utilização de um espelho.

Após algumas contrariedades provenientes das materializações em que se tornaram constantes, destaca-se uma reunião com a presença do sr. William Volckman. Esse, incrédulo, não se contentando em apenas observar a materialização num determinado momento da sessão dirigiu-se ao encontro do espírito e segurou-a pelo pulso. Imensa confusão foi instalada com dois auxiliares que foram em defesa do espírito que inesperadamente dissolveu-se nas mãos do agressor que perdeu o móvel de seu intento infeliz.

​Neste contexto, Florence, que era funcionária de uma escola, após a reverberação negativa pela cidade da intervenção desastrosa do sr. Volckman contra o espírito Katie King foi sumariamente demitida. O sr. Charles Blackburn rico de posses materiais e sensibilizado com o acontecido passou a custear a médium desde que se comprometesse na continuidade das experimentações públicas, o que ela aceitou de bom grado.

​Posteriormente, em audiência com o renomado pesquisador Crookes ofereceu-se, sem restrições, a participar de experiências de materializações com o espírito Katie King com o fito de ser estudada de maneira detida e permanente. Para isso impôs uma única condição que se fazia preponderante para o início dos trabalhos. Se ao final das experimentações o Sir. William chegasse à conclusão de que se tratava de uma farsa bem ardilosamente promovida por ela, que a denunciasse publicamente. Por outro lado, se atestasse a veracidade das materializações, confirmasse a realidade da sobrevivência dos espíritos e sua capacidade em se comunicar com os vivos, que ele declarasse de maneira irrefutável a idoneidade de sua postura, tanto quanto a pureza de suas intenções.
​Importante ressaltar pelas palavras do físico e químico britânico, Sir. Crookes o que aconteceu em uma das sessões de materialização do espírito Katie King:

“Uma noite, contei as pulsações de Katie; o pulso batia
regularmente 75, enquanto o da Srta. Cook, poucos
instantes depois atingia a 90, seu número habitual.
Auscultando o peito de Katie, eu ouvia um coração
bater no interior, e as suas pulsações eram ainda mais
regulares que as do coração da Srta. Cook, quando,
depois da sessão, ela me permitia igual verificação”.

​Desta forma, atesta-se a efetividade do mundo espiritual, sua interferência em nosso plano, a cumplicidade da médium e os esforços ingentes de inúmeros agentes fomentadores do desenvolvimento humano e social na estruturação da grande obra de desbravamento do mundo dos espíritos.

​Florence Cook seguiu a sua vida constituindo família com a consciência tranquila de haver dado testemunho da tarefa que a vida lhe impôs. Foi dignamente um veículo útil nas mãos dos espíritos em uma época que se pagava com a própria vida o enfrentamento dos preconceitos religiosos e orgulhosos de convulsionamento das entranhas de uma sociedade sequiosa em manter uma postura conservadora e mantenedora da ignorância da irrefutável realidade espiritual.

​Fica aqui o nosso preito de gratidão a uma jovem médium que se entregou por inteiro, sujeitando-se às conformidades científicas de sua época, expondo sua intimidade e oferecendo-se ao julgamento de uma sociedade, para que hoje pudéssemos desfrutar na intimidade de nossos corações sem qualquer desconforto físico e emocional existente, os relatos e a confirmação da existência dos espíritos.

​A consciência de que somos espíritos imortais e vivemos diversas existências carnais durante os séculos que se sucedem até atingirmos a perfeição, é um dos contributos que a médium Florence Cook deixou registrada com sua devoção à prática mediúnica.

“Todos compreendem que o reino de Jesus não é deste mundo, mas, ele não terá
também na Terra uma realeza? Nem sempre o título de rei quer dizer o exercício do
poder temporário. Por unânime consenso, esse título é dado a todo aquele que se
eleva pela sua sabedoria à primeira posição numa ordem de ideias quaisquer, a todo
aquele que domina, o seu século e influi sobre o progresso da Humanidade. É nesse
sentido que se costuma dizer: o rei ou príncipe dos filósofos, dos artistas, dos poetas,
dos escritores, etc. Essa realeza vem do mérito pessoal, consagrada pela posteridade,
muitas vezes, não revela superioridade bem maior do que a que abrange a coroa
real?”

Evangelho Segundo o Espiritismo.

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